A importância da educação infantil no processo de alfabetização

Artigo publicado no Jornal Virtual Ano 8 n. 158 - Editora responsável pelas revistas "Profissão Mestre" e "Gestão Educacional" Desde a entrada da mulher no mercado de trabalho em igualdade com os homens que diversas mudanças ocorreram em nossa sociedade.
Houve o surgimento das creches e da educação infantil e consequentemente as crianças passaram a conviver em sociedade muito mais cedo do que em outros tempos, assim como foram estimuladas e inseridas no contexto educacional mais precocemente.
Fica então a pergunta: até que ponto este movimento é bom para as crianças? Sabemos que o excesso de estímulos, bem como “forçar” uma criança a aprender, pode ter consequências catastróficas em sua vida. Ela pode perder o interesse pelos estudos, achar ruim estar na escola ou até mesmo ficar deprimida, cansada, irritada ou estressada. Por isso, pensar a educação infantil como uma preparação para alfabetização é reduzir seu alcance e seus efeitos. Nesta fase da vida, do zero aos cinco anos, uma criança está em plena transformação e construção de suas potencialidades. É nesta fase que sua personalidade adquire marcas importantes, bem como conviver com os amigos, professores e demais pessoas são construídos. É onde também acontecem os trabalhos dos pré-requisitos importantes para que a alfabetização aconteça. No Berçário, damos início ao trabalho da percepção auditiva, visual e tátil da criança. São importantes os estímulos musicais, as conversas e os carinhos assim como os estímulos móveis onde o bebê possa “brincar” tais habilidades. A observação de um objeto e o treinamento de seus movimentos para alcançar esse objeto são exemplos práticos desse trabalho. No Maternal, esses trabalhos de percepção visual, auditivo e tátil se intensificam e, aliado isso, dá-se início ao trabalho de coordenação motora ampla, chegando ao de coordenação motora fina. A ampliação de vocabulário, que o fará um bom escritor, o trabalho com regras e rotina que facilitam o entendimento futuro das regras da alfabetização, a lateralidade e situações práticas que desenvolvam a lógica matemática. A partir dos quatro anos, o trabalho com a criança se direciona para um caminho mais próximo do letramento. São desenvolvidas atividades práticas onde a criança constrói a quantificação dos símbolos numéricos e onde ela tem acesso à leitura de diferentes símbolos. A criança nessa idade não tem que fazer cópias! Sua escrita deve ser espontânea onde ela utiliza o espaço e a ordem das letras de acordo com a fase da escrita em que ela se encontra (com base no trabalho de Emília Ferreiro). É muito importante salientar que é na educação infantil que a criança vivencia sua aprendizagem. Sem essa vivência, sua capacidade de abstração fica bastante reduzida. É por meio do trabalho concreto de construção dos diferentes saberes que a criança terá a capacidade de abstrair seu pensamento nas atividades do ensino fundamental. Além disso, pensamos a alfabetização como uma “leitura de mundo”. A criança não tem que trabalhar somente as letras e os números, isto é uma consequência de um trabalho maior onde há ética, os valores humanos, a preservação ambiental, o aprender a resolver conflitos, internalizar as regras, enfim, conhecer o mundo e aprender a fazer parte dele a partir de sua singularidade.
São estas as diretrizes que norteiam os nossos trabalhos, assim como o que é priorizado na educação infantil, pois o trabalho do educador não pode estar engessado num “currículo programático” e sim aberto ao novo e ao acompanhamento das descobertas de cada criança.
 Texto de Simone de Aquino Pospiesz de Oliveira, diretora e psicopedagoga da Escola GAIA, e Wagner Rengel, psicanalista e diretor da Escola GAIA.

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